17 05 Carta aberta ao Armado Cardos
Carta aberta ao Armado Cardos
Caro Armado Cardos
Sei que o meu amigo tem um negócio e como qualquer empresário que se preze, tem de o levar para a frente custe o que custar.
Se bem entendo o seu negócio é granjear clientes interessados em verem aumentados os seus salários e trabalharem quanto menos melhor. Não o quero ofender dizendo isto, pois esses objetivos são humanos e perfeitamente compreensíveis.
Dito isto assim, caríssimo, o senhor terá tanto mais sucesso quantos mais forem os seus clientes, não só pelas quotas que pagam, mas também pelo efeito mobilizador junto de outros que ainda não pertencendo à sua carteira o possam vir a fazer.
Vai daí o seu papel será o de obter para o seu cartel as maiores vantagens possíveis, ora negociando, ora tomando posições de força que levam os seus interlocutores a aceitarem as suas exigências.
Só que estas, desculpe dizer-lhe não raras vezes são cegas, pois o senhor e alguns dos seus braços direitos, como a menina Aninhas Papoila e o Mago Nojeira, não entendem uma coisa simples, para distribuir seja o que for é preciso que exista o que repartir, senão pode fazer com que muitos dos seus clientes percam o emprego e vai daí deixam de recorrer aos seus prestimosos serviços. Bem sei que pouco se importa com os que não estão empregados, ou mesmo com aqueles que não prestando serviços ao Estado, não se sentem tão à vontade para entrar nas vossas lutas… mas olhe que isso não é inteligente, quantas mais pessoas tiverem ocupação, maior é o seu campo de recrutamento de clientes.
Depois, deixe-me dizer-lhe, os senhores comportam-se como aqueles que vendo uma camisa lavada, ou o farnel um pouco mais nutrido do vizinho, logo reivindicam para si iguais preparos. Aconselho-os que tenham calma, peçam o que for possível, pois os impossíveis são demasiado caros e os milagres só em Fátima, e não sei se não fechou para obras.
Mas também entendo que só o barulho muitas vezes vos faz notados e serve como um certificado de existência, mas não queira ir pelo caminho mais fácil arregimentando aqueles que estão sempre disponíveis para atender às vossas solicitações, porque não tenta também aqueles que não são tão reivindicativos quanto os que vivem debaixo do guarda chuva do Estado. Por ter medo? Ou porque sabem que aí o conforto não é tanto e se as coisas correrem mal, os desgraçados receiam ir engrossar o regimento daqueles que não serão tão cedo vossos clientes.
Bem sei, que inteligente como é, tenta enfiar o máximos de pessoas nas vossas lojas bandeira, mas atenção que aí também há limites e se as quebra a coisa pode dar para o torto.
Depois, sabe, há muitas pessoas que ficam chateadas por os filhos não terem escola, pelos blocos operatórios não funcionarem, pelos transportes não os levarem onde precisam, e se a coisa acontece uma vez por outra, paciência… é o vosso trabalho, mas se começa a ser um hábito, a popularidade da sua empresa esvai-se.
Oh homem tome uns xanaxes, mantenha-se calmo, faça as contas bem feitas com a arte do possível e já agora diga à Aninhas Papoila que faça o favor de me dispensar da tortura de a ver frequentemente nos noticiários matinais.